Copo de 3: Parados num atoleiro de copo na mão...

03 abril 2011

Parados num atoleiro de copo na mão...

Não sei se é da agonizante crise que se instalou em Portugal, mas vejo esta "cousa" dos vinhos como cada vez mais um enorme atoleiro onde todos nós andamos de copo na mão sempre à espera que nos caia algum néctar precioso lá dentro mas que depois tudo não passa do mesmo sítio. Os movimentos ou tentativas dos mesmos que se vão fazendo para a coisa mudar um pouco que seja, são quase nulas... o consumidor, esse coitado, vive num marasmo de pobreza enófila a que juntamos a falta de iniciativas que o ajudem a sair desse estado tão precário em que parece gostar viver. No meio onde tudo parece estar mais inerte, estão aqueles que pensam tudo estar à sua volta e olham sobre todos os outros com um olhar paternal, cuidam do rebanho enófilo, lutam pelos seus gostos, lutam para que tenham direitos que vingaram faz muitos anos noutros lados... com as boas novas do vinho a copo, digno tratamento dos vinhos com copos a rigor e preços sensatos praticados nos restaurantes. Continuam a falar mas sem esforço algum para também eles saírem do seu atoleiro no qual estão instalados faz umas dezenas de anos, confortavelmente instalados tudo o que fazem é apenas mais e mais... do mesmo.
Limpando da vista a sujidade que por aí anda a verdade é que não passamos da cepa torta, o mundo do vinho em Portugal parece não caminhar para lado algum, ainda que por momentos as coisas parecem querer mudar... não mudam o suficiente, porque são gotas de água num imenso atoleiro que não resolve nada. As revistas que temos parecem estagnadas e resignadas ao que fazem, grande parte delas sem qualquer interesse, muito pouco se mostrou em termos de evolução, continua num mesmo formato de provas a repetirem-se anos atrás de anos... inovação é coisa que não se encontra por ali, nem mesmo no formato do seu site onde até hoje foram incapazes de colocar a revista em formato pdf gratuito passados uns meses após o seu lançamento, depois torna-se muito previsível saber as provas temáticas que são colocadas mensalmente e também dessa maneira os vinhos que nelas vão aparecer e os lugares que conquistam, salvo algo que corra mal na adega os lugares cimeiros acabam sempre para ir parar aos mesmos, dá a sensação que trabalham para uma parte do sector e não para todos os enófilos que a compram... e eu a pensar que ironicamente os blogs é que se tornavam chatos com o tempo. É aqui que a blogosfera nacional se soube mostrar como alternativa, mais não seja porque se instalou como uma alternativa ao chato papel do dobra deita fora, a tentativa do mesmo se instalar no modo digital tem corrido mal em muitos lados... os fóruns em Portugal são enfastiantes, entre o lameiro e a terra queimada onde impera tudo menos a vontade de falar do que realmente interessa, reina o corporativismo e normalmente quando o tema interessa ou incomoda de imediato surgem parasitas virtuais de nomes duvidosos com duas cabeças e gente que tudo faz para romper uma possível harmonia, é talvez este o motivo principal pelo qual um fórum de vinho em Portugal estará sempre inquinado e ferido de morte. Quem será o produtor de vinhos ou o chefe de cozinha que se vai querer sujeitar a ser enxovalhado em pleno fórum por um qualquer "anónimo" que actua com a autorização dos próprios responsáveis pelo dito espaço ? A pouca mobilização que esses mesmos espaços conseguem junto dos seus participantes é também aqui em Portugal um grande motivo de celebração por parte dos seus responsáveis...

O culminar de tudo isto são os eventos Made in Portugal que deixaram de lado a veia da paixão pelo mundo do vinho e se transformaram em puro negócio, eventos onde cada vez mais se tenta bater o recorde de visitantes a todo o custo, aquilo que se queria como um evento torna-se em poucas horas numa enorme Feira... gente a falar alto, as bancas com petiscos, o cheiro a fumeiro no ar, o copo de vinho na mão e a sandocha na outra, encontrões e gente aos magotes... é esta a imagem de um evento nacional de vinhos, mesmo que no final a organização venha radiante afirmar que o visitante cada vez mais sabe o que quer e que já sabe reconhecer o polyester do puro algodão.

Os mesmos eventos que batem recordes de assistências anos após ano, são os mesmos que deviam contribuir para um esclarecimento do consumidor, não de um consumidor já esclarecido mas do outro consumidor... e neste caso não se tem feito muito ou mesmo nada. A imensa minoria que gira à volta destes acontecimentos, destas revistas e destes fóruns acaba por ir ficando saturada com mais do mesmo... salvam-se as honras da casa com alguns eventos de cariz particular, mas não são esses que vão fazer com que algo mude. Afinal de contas, aqueles que lutam para que algo mude, que lutam por sair do tal atoleiro são os mesmos que são apontados de serem chatos pelos senhores que "mandam" no dito local.

Nós deiqui i bós daí
Sodes tantos cumo nós
Mataremos un carneiro
Ls cuornos são para bós

3 comentários:

ricardo disse...

Compreendo o grito de revolta!

Que outros caminhos apontas?
Sobre os eventos de certo que haverá quem queira participar em coisas novas e vão acontecer em breve.

Rui Oliveira disse...

Compreendo de certa forma o comentário colocado e após visitar a essência do vinho saí com esse comentário na cabeça e escrevi no meu blog, porque sinceramente não gostei...existe um grande distanciamento da maior parte dos produtores ás pessoas e mais...parece que o mercado nacional agora já não interessa, apenas interessa o mercado estrangeiro.
Penso que as únicas formas de tirar as pessoas desse atoleiro é mesmo oferecer esse tipo de informação através de ofertas turísticas nas próprias quintas, mas aí já vai ao bolso do cliente.
A ideia é que nem toda a gente quer ser enofilo, apenas querem beber um vinho que lhes seja agradável.

João de Carvalho disse...

Caro Floyd por isso mesmo digo que estamos no atoleiro de braço esticado e copo na mão, quantas vezes não abri eu garrafas para dar a provar e do outro lado ouvia gosto muito que belo vinho... mas depois é mais do mesmo, não compram aqueles que gostam muito, compram os mais baratos e ficam sempre à espera de outra oportunidade para conseguir beber outro vinho de qualidade.

Isto sempre assim foi e irá continuar a ser... a promoção do vinho em Portugal é quase nula. O consumidor puro e duro não mostra interesse, quer é beber do melhor e se for de borla melhor ainda, porque por ele a comprar é sempre mais e do mesmo.

 
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