É cada vez mais normal ouvir dizer que determinado vinho ainda está muito novo e a precisar de garrafa, ou que está ainda muito fechado, que os taninos precisam de ser domesticados, que a madeira ainda não se integrou no conjunto, etc.
Tudo isto se repete quando falamos de vinhos que estão a entrar no mercado, convém fazer sempre uma ressalva para as excepções, mas a verdade é que vinhos que supostamente deveriam estar prontos para dar prazer não o estão a proporcionar e a prova fica sempre refém ou de uns taninos mais rebeldes ou de uma madeira que ainda não se integrou, ou mesmo de um conjunto que precisa de tempo para se “arranjar”.
A culpa é em certa parte da pressão exercida pelos agentes do mercado sobre os produtores que se vêm quase que obrigados a lançar um vinho à pressa para satisfazer esses mesmos pedidos. No meio disto tudo e com uma certa dose de culpa, estão todos aqueles consumidores sedentos de provar tudo o que é novidade, qual coleccionador de cromos a preencher uma caderneta.
Centrado a conversa apenas e só na gama média e alta, grande parte deles são consumidos cedo demais, não estando à venda na sua melhor forma. São estes exemplares que podem e devem ser guardados durante algum tempo, para que na altura de consumo em vez de desculpas e lamúrias, as palavras sejam de alegria e satisfação.
Uma das desculpas que os consumidores de hoje costumam dar para não guardar vinho em casa, é que não têm as condições ideais de guarda no apartamento e que por isso não vale a pena ter sequer uma pequena garrafeira. Às pessoas que pensam desta maneira, gostava de perguntar como é que grande parte dos vinhos velhos que hoje fazem as delícias de muitos, chegaram até aos dias de hoje, sabendo que as caves climatizadas não existiram sempre. Sem sequer falar nas condições de guarda “duvidosas” de certas garrafeiras e nem sequer mencionar as grandes superfícies comerciais.
Infelizmente o conceito de garrafeira está cada vez mais em perigo de extinção, enquanto que o conceito de vinho de guarda vai perdurando, ainda que ignorado pela maioria.
Admitindo que se pode tornar um pouco confuso, saber quantos anos pode durar este ou aquele vinho, os palpites são sempre dados sem certezas absolutas, desde que me dediquei a este fascinante mundo do vinho que encarei o guardar os vinhos como algo natural e que só pode trazer vantagens. Enquanto os vinhos (brancos, tintos e rose) de entrada de gama opto por um consumo no primeiro ano após o seu lançamento, no que toca aos vinhos de gama média e gama alta a abordagem é diferente.
Sempre que possível o melhor é provar-se um vinho antes de comprar, e dessa forma tentar perceber se precisa de mais algum tempo ou não. Sendo um pouco generalista e mais uma vez com ressalva para as inúmeras excepções, no que toca aos vinhos de gama média, não vejo problema algum em que se guardem na garrafeira durante 1 a 2 anos após entrada no mercado. Já os topos de gama, na sua maioria refinam e ganham complexidade com 2 a 4 anos em garrafa.
Normalmente quando mais recente for o ano de colheita, mais tempo o vinho deverá repousar, quando mais antiga for a colheita, mais probabilidade temos de encontrar um vinho num ponto óptimo de consumo e como tal precisa de pouco ou nenhum tempo de guarda.
Saber esperar e tirar o melhor partido possível de um vinho é ao mesmo tempo um enorme prazer como também é o justificar e dar como bem empregue o dinheiro nele investido… porque afinal de contas, saber esperar é uma virtude.
Texto da autoria de João Pedro de Carvalho publicado originalmente na Revista Divinum (Jornal Público) nº4 Novembro 2009.
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