Copo de 3

28 julho 2010

Dão: The Next Big Thing

Este era o evento que faltava à região do Dão para mostrar de uma vez, todas as suas potencialidades enquanto região produtora se é que dúvidas havia. Um evento que viria a nascer não da cabeça das entidades que têm obrigação em fazer estas coisas... mas sim como uma iniciativa privada de um produtor da região, João Tavares de Pina que na sua Quinta da Boavista produz os vinhos Terras de Tavares. O espírito irrequieto de João Tavares de Pina sempre o levou à procura de mais e melhor para os seus vinhos, nunca descuidando nos detalhes, respeitando sempre o carácter das castas com que trabalha e procurando ao mesmo tempo mostrar algo de novo, que falarei mais tarde, mas sempre com o objectivo claro de obter vinhos de carácter inconfundível, feitos para durar como mostrou o Reserva 1997 e num estilo muito gastronómico. Foi este produtor que sozinho decidiu colocar o Dão às costas e fazer um evento que dignificasse toda uma região, um evento que incluiu 20 dos mais representativos produtores da região, que colocaram os seus vinhos em prova para um leque alargado de provadores nacionais e estrangeiros. As dormidas ficaram a cargo da Quinta da Boavista e da Casa de Darei e um agradecimento à Câmara Municipal de Penalva do Castelo que cedeu os transportes para toda a comitiva.

O dia escolhido foi 24 Julho de 2010 e a romaria dos convidados começou de véspera para encurtar caminho e estar o mais cedo possível no Solar do Vinho do Dão em Viseu. Na véspera já se tinham aberto umas quantas garrafas para afinar nariz, garganta e os indispensáveis blocos de notas. A jornada começou cedo, eram 8:30 da fresca manhã e estava eu e o Miguel a mergulhar na piscina da Quinta da Boavista... nada melhor para relaxar e preparar para a longa jornada que nos esperava.
A primeira prova estava marcada para as 10:00 horas e deveria contar com um número mais alargado de produtores, não fosse a inexplicável falta de comparência de alguns quando já tinham confirmado a sua presença, falharam pois a Quinta das Marias, Casa de Santar, Quinta do Corujão, Pedra Cancela, Quinta da Fata e a Quinta do Serrado que tinha as garrafas mas não tinha ninguém para as abrir ou falar sobre os vinhos. Pergunto se é esta a maneira correcta de se estar neste mundo pois se um evento desta natureza em que constavam nomes como Charles Metcalfe, Paul James White, Kathryn McWhierter, Yvonne Eistermann, Ilkka Sirén, Manuel Serrano e outros tantos nomes aqui de Portugal (bloggers e não bloggers), não serve para promoção então pergunto qual evento ou que tipo de coisa é que lhes serve... continuo a não entender. Estiveram presentes nesta prova os seguintes produtores, cada um com 3 vinhos em prova: Vinha Paz, Casa de Mouraz, Vinícola de Nelas, Quinta do Cerrado, Quinta da Vegia e Quinta do Perdigão. Destaco apenas alguns dos provados (em actualização):

Vinha Paz colheita 2008: espelha bem a sua região, cheiramos e dizemos que é um vinho do Dão, com carácter e boa complexidade, frescura a embrenhar-se no mato denso com fruta igualmente fresca e silvestre. Gosto disto e a boca acompanha, madeira discreta, amplitude média e alguma austeridade a meio palato num vinho com estofo para evoluir bem nos próximos tempos... a colheita 2000 aqui provada confirma. 90

Vinha Othon Reserva 2006: este vinho foi muito acarinhado por quem a ele se chegou e provou quando saiu para o mercado, na primeira vez que me caiu no copo não deu aquilo que eu tinha imaginado... enganou-me ligeiramente e foi melhorando com o tempo, mais e mais, numa delicada complexidade alicerçada numa boa dose de frescura com taninos presentes. Mostra-se mais pronto que o Reserva e um pouco mais sério que o Colheita. 91

Vinha Paz Reserva 2007: é claramente o mano mais velho do colheita, entenda-se mano mais velho como um vinho em tudo maior, seja complexidade, corpo, profundidade e no final a qualidade mostra-se aqui mais e melhor. Um vinho ainda muito fechado, duro, raçudo e cheio de frescura e apontamentos, a madeira ampara todo o trabalho, traves mestras que aportam outra classe ao vinho, tem tudo para ser um grande vinho do Dão... deste vou querer beber apenas daqui a uns bons anos. 93

O sol batia nas 13:00 horas, o calor já se fazia sentir e a fome apertava, o almoço seria servido pelo Chef Rodion Birca e estava marcado no pomposo Clube de Viseu com a participação especial do Conservatório Regional de Música "Dr José de Azeredo Perdigão", seria uma sessão com harmonização gastronómica e musical, contava com a presença dos produtores Casa de Darei, Quinta da Bica, Quinta da Boavista, Quinta da Pellada, Quinta dos Carvalhais, Quinta dos Roques, Quinta Fonte do Ouro e Quinta Vale das Escadinhas. Foram ainda solicitados à Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro alguns dos históricos vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão. Depois do longo almoço, umas boas 4 horas de duração, ainda tivemos tempo de refastelar nos sofás em amena cavaqueira, recuperar forças com mais alguns vinhos que foram sendo colocados em prova pelos produtores já referidos.
O processo foi simples, por cada prato que nos era servido, eram colocados em prova 2 ou 3 vinhos acompanhados por uma peça musical. Farei um breve relato das sensações que tive essencialmente com os vinhos servidos e os pratos que os acompanharam.

O primeiro prato a ser servido foi Requeijão de Ovelha, Agridoce de Tomate e Agrião, acompanhado de dois brancos, Primus Reserva 2007 (91pts) e Quinta das Maias Verdelho 2009 (90pts). Ambos de muito bom nível, o Primus a mostrar os dotes que o lote confere quer à complexidade quer à finesse, mas sem grandes exuberâncias e algo mortiço no nariz. No lado oposto o Verdelho dos Roques, mais vivo e fresco, exuberância moderada num todo fino equilibrado e de fundo mineral. Na harmonização gostei mais do Verdelho, penso ter uma acidez mais capaz de ligar com o agridoce de tomate e agrião.

Com Sardinha Alimada com Pimento Confitado vieram mais dois brancos, um Casa de Darei Grande Escolha 2007 (91pts) e um Encruzado Quinta dos Carvalhais 1998 (89pts). O Carvalhais mostrou uma tonalidade a lembrar ouro velho, carregado de aromas cansados apesar de alguma frescura que lhe servia de muleta... mesmo assim ainda com um bouquet minimamente interessante para a nota não vir por aí abaixo. O Casa de Darei Grande Escolha 2007 foi uma boa surpresa, desconhecia, encontrei um branco fresco e muito bem estruturado pleno de fruta fresca e mineralidade, pederneira e vegetal fresco em dose mais pequena. Daqueles que gosta de passar uns tempos na nossa garrafeira. Aqui a harmonização não se deu visto eu dispensar a Sardinha, mas claramente apostaria no Darei.

No Folhadinho de Queijo da Serra, Mel e Alecrim foi a vez dos fatos de gala, entraram em cena os brancos do CEVDão 1971 (95pts), 1980 (92pts) e 1992 (90pts). Foi colocar a fasquia muito alta, indo a qualidade e o nível subindo à medida que a idade aumentava, por isso mesmo o 1992 foi aquele que achei menos interessante, toque apetrolado ligeiro, boca fina e muito delicado, poderei dizer apagado ? Já o 1980 se mostrou um pouco melhor, mais refinado apesar de delicado, mais volume e frescura quer em nariz quer em boca, mais vinho portanto. A vivacidade nota-se bem distinta. O melhor dos brancos seria o deslumbrante 1971, de aroma complexo e refinado, ceras, melado, fruta ainda com frescura, mineralidade e ligeiro petrolado em plano de fundo. Tudo muito harmonioso, perfumado e bom de se cheirar, durou no copo mais tempo do que muitos vinhos "rapazolas". Ligação disputada entre o 1980 e o 1971, com a frescura e envolvimento do 1971 a levar pela melhor.

Crocante de Morcela da Beira, Emulsão de Abacaxi e Redução de Balsâmico, com Touriga Nacional Quinta Fonte do Ouro 2008 (85pts) e Quinta da Bica Reserva 2005 (89 pts). Os dois vinhos que menos gostei, o Fonte do Ouro cheio de notas doces e achocolatadas, flores demasiadamente colocadas, satura e enjoa... dizem que é o perfil internacional a trabalhar, pessoalmente dispenso sem antes dizer que é um vinho bem feito mas que não me satisfaz. O Quinta da Bica é um produtor que acompanhei em colheitas mais antigas, agora com imagem reformulada o vinho mostra-se um pouco mais moderno mas ao mesmo tempo muito elegante, ligeiro, fresco... a provar com mais atenção para afinar a minha opinião.

Intervalo vínico com um Consommé de Codorniz, Croutôns de Gengibre e Ervas Aromáticas.

Almôndegas de Lebre, esmagado de Batata e Espinafres Frescos, ao que se juntou o Quinta da Falorca Garrafeira 2003 (92pts) e o Terras de Tavares Reserva 2003 (92pts). Dois pesos pesados da sessão, os dois ainda algo fechados e receosos de mostrarem o que lhes vai na alma, o Falorca a mostrar mais madeira, mais fruta madura, uma prova mais fácil e pronta enquanto o Terra Tavares um vinho com frescura e taninos a mostrarem que o caminho é manter-se na horizontal por mais um tempo. Qualquer um dos dois vinhos esteve em plena sintonia com o respectivo prato.

Arroz de Polvo, Ovo de Codorniz Escalfado e Emulsão de Coentros, com Tintos CEVDão 1970 (93pts) e 1971 (89pts). Aqui começamos a entrar na velha guarda, nos vinhos de culto e direi naqueles que ouvimos alguém dizer que provou e pensamos que nunca vai chegar a nossa vez... com sorte esta foi a segunda vez que tive oportunidade de os provar e ainda bem. Claramente melhor o 1970 do que o 1971, mais vivo com fruta fresca em muito bom plano, especiado, terroso, notas de madeiras velhas e tabaco, tudo muito delicado e harmonioso... repito-me em vinhos deste calibre. Já o 1971 mostrou-se cansado, aromas já de fruta passa, tudo muito seco e sem grande vida, mortiço no nariz como na boca... claramente um vinho que já teve melhores dias.

Lombinho de Bacalhau suado em Borras de Vinho e Migas, e o rei da tarde... CEVDão Touriga Nacional 1963. É para mim sem nenhuma dúvida o melhore exemplar de Touriga Nacional provado até hoje, esta garrafa mostrou-se muito mais afinada e em melhor forma que a quando da minha primeira prova deste vinho. Um hino ao Dão e à Touriga Nacional.

Encerrando o almoço com um desenjoativo Crocante de Pudim Abade de Priscos.

Durante a tarde, ou o que restava dela ainda tivemos oportunidade de provar mais alguns vinhos que os produtores convidados para o almoço colocaram à disposição. Nesta altura o descanso era imperial e poucos eram os vinhos que me apetecia verter no copo, conto um excelente Carvalhais Único, Quinta dos Roques Garrafeira 2003 e Roques Encruzado 2008, a conversa estava tão animada que quando me dirigia para provar os restantes vinhos eram quase 20:00 e era altura de voltar à Quinta da Boavista onde o evento iria encerrar com um jantar de convívio, vida dura portanto, que contou com a presença de todos os provadores convidados e dos produtores presentes no almoço. Um autêntico festim com que nos brindou o Cozinheiro João Tavares de Pina, durante o qual nos foi apresentando algumas das suas novas criações, um 100% Tinta Pinheira (Rufete) e um blend de Touriga Nacional com vinhas velhas mais conhecido por Kaos. Se o primeiro já era meu conhecido e bastante adorado, o segundo mostrou-se uma valente surpresa, um vinho cheio de vigor, frescura, complexidade muito boa num vinho muito perfumado e profundo, temos vinho para seguir com atenção quando sair para o mercado. Já o Tinta Pinheira é todo ele frescura, vegetal fresco com muita framboesa e cereja a escorrerem de maduras, quase que se trinca com a austeridade vegetal que tem no palato, embrenhado no mato rasteiro e na caruma de pinheiro, cheiros e sabores locais portanto... tem vindo a afinar mas tem taninos e acidez bem presente, essenciais para longa vida pela frente. Pelo meio ainda se teve a oportunidade de beber o Terras de Tavares Reserva 1997, o primeiro vinho que provei desta casa e que desde o seu lançamento me conquistou pela sua qualidade, está a dar uma prova de alto gabarito, madeira acertada com o compasso da frescura e da fruta, todo ele muito Dão sem extras desnecessários... mais uma vez um vinho que é bastante amigo da mesa, algo que todos nós devíamos ter em conta na hora da compra, porque o Dão é isto, vinhos amigos da mesa, vinhos que em novos se mostram fechados e algo duros mas que com a idade se tornam aveludados, frescos e muito elegantes com aquela tonalidade irresistível que os caracteriza. Por outro lado temos os vinhos de cariz mais comercial, dizem que mais ao gosto do consumidor, eu pessoalmente fujo cada vez mais de comprar vinhos com esse carimbo comercial, porque acho que a fruta deve ser servida madura, limpa e bem fresca, não com toques adocicados e toda ela besuntada de baunilhas e chocolates da madeira por onde passou, segue-se um grau alcoólico que quase sempre é estupidamente abusivo neste tipo de vinhos, para não dizer que o tempo passa por eles como uma rebarbadora, óbvio que há excepções mas por norma o álcool acaba sempre por derrapar para fora do copo e fica o caldo entornado. Quero convencer-me que o Dão leva o caminho dos primeiros vinhos, dos genuínos e daqueles que nos podemos e devemos orgulhar...


Um evento 5 estrelas, excelente convívio onde muito se riu, bebeu, aprendeu e conversou. No Domingo ainda havia um almoço com prova marcada na Casa de Darei, mas as saudades do meu filho com 2 meses eram mais que muitas e tive de voltar mais cedo para casa. A todos aqueles que conheci ou revi, com quem falei, ri e partilhei mesa durante estes 2 dias, os meus agradecimentos, em especial ao João Tavares de Pina e à sua família pelo fantástico acolhimento na Quinta da Boavista. João, um grande abraço de parabéns e que se repita... nós gostamos e o Dão agradece.

24 junho 2010

Coudoulet de Beaucastel Côtes du Rhône 2001

Para muitos apreciadores o Château de Beaucastel é considerado o grande ícone de Châteauneuf du Pape, localizado a 5km Sueste de Orange, no limite norte da appellation de Châteauneuf du Pape. Os 30 hectares da vinha de Coudoulet de Beaucastel ficam a este de Beaucastel, do outro lado da A7, a auto-estrada que serve de linha divisória e coloca este vinho na designação Côtes-du-Rhône, quando curiosamente beneficia do mesmo terroir que o seu irmão mais velho.
O Coudoulet é visto como o pequeno Beaucastel, e tem como o seu irmão mais velho a habilidade de envelhecer nobremente devido à alta proporção de Mourvedre - 30% no lote final, providenciando uma quantidade de taninos suficiente para resistir à oxidação, assegurando mais tempo de vida, com aromas a couro, tabaco e especiarias ao lote final. A Grenache contribui essencialmente com o peso da fruta madura e muito suculenta, Syrah e Cinsault trazem taninos e complexidade aromática. A vinificação é feita em separado com o casamento a dar-se apenas na altura de fazer o blend final, que passa depois durante seis meses em grandes toneis/foudres de madeira, sendo finalmente clarificado com clara de ovo.

Coudoulet de Beaucastel Côtes du Rhône 2001
Castas: Grenache 30%, Mourvèdre 30%, Syrah 20%, Cinsault 20%. - Estágio: 6 a 8 meses em tonel/foudres. - 14% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração mediana.

Nariz de boa intensidade, bouquet aprumado e bastante harmonioso, limpo de aromas com destaque para a frescura da fruta negra (cereja, amora) que se mostra bem madura. O vinho vai abrindo calmamente e de forma harmoniosa no copo, com a madeira bastante discreta a amparar todo o conjunto. Notas de leve regaliz, couro, tabaco, vegetal seco a lembrar chá preto e especiaria em fundo. À boa complexidade junta-se também uma boa profundidade de aromas, num conjunto.

Boca
com estrutura firme e bem redondeada, passagem de boca muito prazenteira com frescura sentida, ligeira sensação de cremosidade dada pela barrica ao mesmo tempo que a fruta ao comando se vai desfazendo em conjunto com toques de especiaria, tabaco, regaliz e leve bálsamo vegetal que se complementa com alguma secura no final de boca, reveladora de alguns taninos por domar, a precisarem certamente de mais um tempinho em garrafa. Um vinho de boa amplitude, que sabe estar e evoluir, aguentando-se muito bem no copo durante toda a refeição.


Este faz parte do leque de vinhos que se tem de arranjar um cantinho na garrafeira para se ter umas garrafas bem guardadas, o investimento não é muito avultado pois o vinho em causa bem comprado deverá rondar os 15€ a garrafa. A produção é substancial e a procura não é tão grande quanto a que é alvo o Château de Beaucastel, mas estamos a falar de realidades completamente diferentes, até nos preços pois claro. Aqui temos uma excelente relação preço/qualidade, um vinho com boa capacidade de envelhecimento e que dá enorme prazer à mesa ou até mesmo a solo mas sempre acompanhado. Uma aposta bem séria e muito acertada este Coudoulet de Beaucastel, e quem avisa... 17 - 92 pts

Pico Madama 2006

De uma parceria resultante entre Bodegas Casa de la Ermita e Guy Anderson Wines, surge o super premium Pico Madama, nascido e criado no parque nacional El Carche. Desde a sua primeira colheita que este vinho tem sido bafejado por boas notas da crítica internacional, revelador de consistência e qualidade, aliando a tudo isto um preço que o torna irrecusável nos tempos que correm, é verdade, as cerca de 40.000 garrafas que são colocadas no mercado são vendidas a um preço que ronda os 10-14€. A evolução em garrafa promete ser boa, mostra taninos e acidez suficiente para tal, e apesar de tudo a prova que dá desde já faz com que seja quase irresistível conseguir guardar alguma.

Pico Madama 2006
Castas: 50% Monastrell e 50% Petit Verdot - Estágio: Monastrell 13 meses em Carvalho Francês e Petit Verdot 13 meses em Carvalho Francês - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz de refinado bouquet que vai evoluindo com o tempo no copo, inicialmente com muita fruta (amora, framboesa, figo) madura, muito limpa e bem fresca, acompanhada por aroma de tosta, especiarias diversas, ervas do campo (lavanda, alfazema), tabaco de enrolar, chocolate after-eight e mina de lápis em plano de fundo. Muita harmonia num todo que apesar de todos os encantos ainda se sente algo preso, a precisar de tempo pois claro.

Boca com muito que contar, de entrada prazenteira, fresca e bem estruturada com uma boa espacialidade, cheio, amplo, novamente fresco, notas de bálsamo vegetal com toque morno de chocolate de leite, especiaria e fruto negro, muito fruto negro que se trinca e deita sumo doce, tabaco e fundo mineral, num todo profundo e complexo, sabe bem e com passagem muito harmoniosa... que apetece voltar a beber. No fundo alguma secura, taninos a pedir cama, tudo num final com uma bela persistência, pois para beber agora ou esperar mais um tempo... ganhamos nós e ele.

É difícil não se gostar deste vinho, ficar-se a pedir mais é o mais natural... nem que tenham de vir de fora mas arranja-me mais umas se fazes favor. É assim que acaba o jantar com mais uma das garrafas que me couberam deste vinho...vai na segunda e sempre agradou e encantou. Amigo da mesa, amigo dos amigos e amigo da carteira, quando se sabe o preço é a festa completa, afinal o muito bom pode ser barato e dar 14€ por um vinho assim compensa muito. Por cá tudo na mesma, reparei numa revista que foi lançado mais um vinho xpto a 50€ a garrafa...
17 - 93 pts

Bodegas Benjamín de Rothschild & Vega Sicilia

É a joint venture do momento e dá pelo nome de Bodegas Benjamín de Rothschild & Vega Sicilia.
Benjamin de Rothschild, accionista do Château Lafite, juntou-se às Bodegas Vega Sicilia para que em conjunto produzam um vinho de alta qualidade (terá um irmão mais pequeno) que entrará no mercado em 2012. O palco é a Rioja Alavesa, e o projecto já vinha sendo pensado faz 7 anos, tempo durante o qual se foram adquirindo em várias etapas, 40 no total, um total de 110 ha de vinha. Desde 2009 que contam já com uma adega alugada na qual se vão realizando alguns ensaios enológicos com objectivo de lançar o novo vinho em 2012, ano em que a nova adega estará pronta.
Com um investimento total de 26 milhoes de euros, para um prazo de 14 anos para se atingir como objectivo o melhor vinho possível, numa adega em que como será de esperar tudo seja do melhor. A convicção de que o resultado será brilhante vem das duas partes envolvidas, sendo que até aos dias de hoje já foram vinificados cerca de 120.000 kg de uva, produção que se irá repetir em 2010 e 2011 e seguirá crescendo até a qualidade atingir o ponto pretendido. Estima-se que sejam produzidas cerca de 300.000 garrafas por colheita.
Para notícia completa, ver aqui.

20 junho 2010

Ázeo Reserva branco 2008

Certos vinhos são tão interessantes que dispensam sempre qualquer tipo de apresentação, afinal de contas podemos dispensar escrever algumas palavras que apenas servem para encher e que se podem muito bem ir ler ao site do produtor. Desta maneira quem procura informação fica a conhecer não só o historial do dito produtor como também outros vinhos que ele produz, a história da quinta entre muitas outras coisas. Este é daqueles exemplos que não merece mais palavras que nos possam distrair do que mais interessa, a sua nota de prova:

Ázeo Reserva branco 2008
Castas: Vinhas Velhas e Viosinho - Estágio: passagem por madeira - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de concentração mediana.

Nariz fresco com toque de leve apetrolado, coeso e a mostrar uma muito boa presença mineral, algum vegetal e floral com fruta (citrino, tropical) bem madura e muita qualidade neste bouquet de delicada complexidade. A madeira aqui novamente muito bem, quase não se dá por ela, faz o papel que tem de fazer e confere aquele bafo que não chega a ser morno em segundo plano, uma leve tosta que lhe confere uma subtil cremosidade. Novamente é a frescura e aquele travo mineralidade que lhe toma as rédeas, com alguma especiaria pelo meio.

Boca de entrada bem fresca e com boa espacialidade, sintonia com a prova de nariz, presença de fruta e tosta num conjunto muito bem afinado e harmonioso no seu todo, com bela profundidade, acidez cítrica com fundo envolto em bela dose de mineralidade, em final longo e com boa persistência. Cheio e vigoroso, num todo muito agarrado à terra, ao terroir, às vinhas velhas que contribuíram para o seu nascimento.

É um Ázeo mais coeso, mais pleno de encantos e delicada harmonia mostrando-se um pouco mais sério dando a noção de que ainda se encontra em fase ascendente. A madeira um pouco mais presente, não muito e a fruta um pouco menos fresca mas mais sumarenta e uma complexidade que se mostra um pouco mais rica. Um belíssimo branco do Douro, muito sério e muito virado para a mesa. A produção não me parece ser muito grande e deve rondar as 2.000 garrafas com um preço que ficará a rondar os 18€.
17 - 93 pts

17 junho 2010

Ázeo branco 2009

Com o nascimento do Pedro Dinis, o tempo que dedicava ao Copo de 3 foi sendo cada vez mais reduzido, agora que as coisas estão mais serenas é tempo de voltar à actividade, voltar novamente a falar sobre aqueles vinhos que me vão chegando ao copo e que mais me chamam a atenção, tenho muita coisa de que falar e o tempo começa a ser pouco. O Verão está à porta, dia 21 mais precisamente, e começa a ser tempo para encostar os vinhos mais estruturados e procurar os vinhos mais leves, frutados e frescos. Falando em brancos com frescura/acidez, um dos que mais prazer me deu a provar nos tempos mais recentes, foi sem dúvida alguma o Ázeo branco 2009 (Douro), que agora aqui coloco em prova, um vinho da responsabilidade do enólogo e produtor João Brito e Cunha, que no seu projecto pessoal produz a gama Ázeo (bago de uva em latim). Um vinho feito com Viosinho e uvas de vinhas velhas onde predominam o Rabigato e Gouveio, provenientes de vinhas a 450m-500m de altitude na região de Alijó, Sabrosa e Porrais.

Ázeo branco 2009
Castas: Viosinho e outras - Estágio: teve passagem por madeira - n/d % Vol.

Tonalidade amarelo citrino de concentração média/baixa.

Nariz muito limpo, fresco e delicado, a delicadeza e frescura são mesmo o que mais marca este vinho, elegante, puro, ao mesmo tempo discreto e mineral, a fruta tem boa presença com citrinos, tropical, fruta de polpa branca com floral e uma leve calda com toques fumados, resultante da passagem que teve por madeira e que ampara harmoniosamente todo o conjunto.

Boca de entrada bem fresca, harmonia da fruta que se sente madura de boa qualidade e concentração, com uma acidez firme e refrescante, direi dominante ao lado do toque mineral. Tem uma boa presença na boca, boa dose de secura, muito limpo e com boa persistência, a madeira sente-se muito ténue, totalmente dispersa no espírito fresco que este vinho transmite.

Um vinho que se pode arranjar com um preço bem convidativo que ronda os 8€ numa boa garrafeira, um motivo mais que obrigatório para se ter este vinho por casa nos tempos de calor intenso. É certamente dos brancos que nos últimos tempos mais prazer me deu à mesa, belíssima dose de frescura, mineralidade, identidade e um polivalente amigo dos bichos do mar que foi bebido a acompanhar um arroz de polvo. 16,5 - 91 pts

08 junho 2010

Casa de la Ermita

A Casa de la Ermita (Espanha) nasce em 1999 a partir do projecto de uma família ligada desde sempre à agricultura. Situada em El Carche, serra com uma das montanhas mais altas de toda a região de Múrcia, faz também parte de um Parque Regional Protegido. Como símbolo para o projecto foi escolhida uma oliveira centenária que se encontra à entrada da adega, esta fonte de inspiração que une a tradição da agricultura de Jumilla com a moderna tecnologia utilizada na adega do produtor.

Jumilla é uma terra de sol e pouca chuva, os seus solos são rochosos e áridos, onde crescem vigorosas cepas, sendo a alma da região sem dúvida alguma a uva Monastrell, dominando cerca de 85% do vinhedo de Jumilla e a terceira mais plantada em toda a Espanha. Nesta DO os brancos são dominados pelas castas Airen e mais recentemente pela Macabeo, resultando em vinhos leves, boa dose de fruta, muito limpos, frescos e bem balanceados, em que a presença do Mediterrâneo faz-se sentir. Nos vinhos rosé temos a Monastrell, e nos tintos também domina a Monastrell complementada por outras castas como Merlot, Syrah, Cabernet-Sauvignon e Cencibel (Tempranillo). A área total de vinha na Casa de la Ermita ronda os 182 ha, dominando a Monastrell com 58,5 ha e como curiosidade na parcela experimental de 32 ha consta a Touriga Nacional.

A adega que funciona por gravidade, fica rodeada pelos vinhedos a mais de 700 metros de altitude, onde flora e fauna convivem livremente, contando com uma cave para 4.200 barricas de 225 litros. Os vinhos deste produtor que tive oportunidade de provar em prova horizontal revelaram acima de tudo uma boa relação preço/qualidade, com alguns exemplares a merecerem uma aposta quase obrigatória para um consumo diário ou mesmo para guarda a médio termo. São na sua essência vinhos frescos, onde a fruta mostra sempre um lado limpo e maduro sem nunca deixar de lado qualquer identidade mascarada por artifícios que pouco ou nada fazem falta e que na sua essência mostra um certo ar Mediterrânico.



Lista de vinhos provados com uns breves apontamentos (notas individuais a sair em breve):

Casa de la Ermita Branco (Viognier) 2008: Conjunto com boa intensidade, tudo muito arrumado e limpo, pêssego, alperce, pêra e ananás com toque melado/calda a dar leve sensação de untuosidade, floral e mineral. Na boca tem leve frescura e menos presença que no nariz, apesar da boa delicadeza e finura do trato. 88/100

Casa de la Ermita Joven Monastrell/Syrah 2008: Feito em exclusivo para a exportação, muito primário nos aromas, simples e directo, as castas envolvem-se e o resultado é um vinho de corpo delgado mas não franzino, com fruta adocicada, pimenta e alguma aspereza vegetal, num todo ligeiramente fresco. Um vinho que vai bem com carnes grelhadas e sardinhas. 85/100

Casa de la Ermita Monastrell Ecológico Crianza 2006: Diferente, assente em toques gulosos e frescos, muita fruta e muita harmonia, acaba por ser um vinho simpático e de fácil agrado. Perfeito para acompanhar as refeições do dia a dia. 88/100

Casa de la Ermita Petit Verdot 2005: Um dos melhores exemplares da casta em solo Espanhol, fruta fresca e madura, boa exuberância com algum exotismo num travo verdot com pimenta verde e bálsamo vegetal, leve envolvência de conjunto com boca de boa amplitude, frescura e taninos a darem corpo ao manifesto. 91/100

Casa de la Ermita Reserva 2004: Abre com tempo no copo, coeso e a mostrar uma boa complexidade, com madeira a dar muita coisa boa embrulhada na frescura da fruta preta e alguma compota. Amplo e bem estruturado, digamos que está no ponto, madeira e fruta em bom nível de entendimento, bálsamo vegetal, chocolate preto, frescura e um belo final. 91/100

Pico Madama 2006
: Um belíssimo vinho, estruturado e rico, pleno de harmonia com força de conjunto apoiado em boa madeira. Sente-se coeso, fechado mas debita já fruta madura com toques de boa intensidade balsâmica, conjunto fresco, complexo, guloso e cheiroso. Muito bem balanceado na boca, amplo, com algum vigor, chocolate preto, compota, frescura, taninos a dizer queremos dormir e longo final. Deste só não compra quem não quer... 93/100

Casa de la Ermita Monastrell Dulce 2006: Um vinho doce natural, uvas secas ao sol com passagem por madeira. O nariz é dominado pelos frutos do bosque maduros e muita compota, frescura, boas notas de especiarias doces (canela). Boca conjuga bem a doçura com a acidez, não é muito amplo, passagem harmoniosa e prazenteira em bom final. 90/100

07 junho 2010

Soalheiro Reserva... a excelência do Alvarinho com madeira

Falar em Alvarinho é sem dúvida alguma falar numa casta de excelência, os vinhos que produz são disso exemplo... e por incrível que pareça Portugal ainda não conseguiu de maneira eficiente mostrar essa enorme mais valia ao Mundo. Do outro lado, Espanha, os consumidores vão-se cada vez mais roendo de inveja quando provam grande parte dos nossos Alvarinhos, ainda por mais tendo em conta a relação preço/qualidade dos nossos exemplares. Mas se tudo isto se passa no Inox, a discussão sobre o Alvarinho com passagem por madeira, já teve a seu tempo os que antes afirmavam que a casta só tinha a perder com a passagem por madeira, os mesmos que nos dias de hoje tecem rasgados elogios. A passagem do Alvarinho por madeira confere aos vinhos outras nuances, enriquece o vinho quer a nível de aromas e mesmo de sabores e quando se consegue a plena harmonia entre fruta/madeira o resultado é uma maior complexidade, retirando-lhe alguma austeridade mas ao mesmo tempo tornando-os mais nobres e majestosos. Em Portugal a coisa já não é novidade, a casta Alvarinho tem sabido o que é fermentar ou mesmo estagiar em madeira e os resultados tem sido bastante animadores, em alguns casos até deslumbrantes.

A Quinta de Soalheiro é talvez a maior referência nos dias de hoje no que a Alvarinho diz respeito, os vinhos que tem lançado para o mercado nos últimos 5 anos tem conquistado tudo e todos, os preços ajuizados e poderei dizer democráticos, fazem com que chegue facilmente à mesa do consumidor, pois por uns meros 7,99€ pode-se levar para casa um dos melhores brancos produzidos em Portugal e tenho dúvidas que lá fora se faça um branco deste nível com preço semelhante. Afinal de contas são 25 anos a produzir Alvarinho, em Melgaço, com a primeira vinha a ser plantada em 1974 pelo pai de Luís Cerdeira, em que o primeiro vinho de marca Soalheiro saiu na colheita de 1982. A gama foi-se ampliando com o passar do tempo, com Espumante, Aguardente e mais recentemente aparece o Soalheiro Primeiras Vinhas acompanhado do Allo, do Soalheiro Dócil e o novo topo de gama da casa, o Soalheiro Reserva. Em todos eles algo se destaca e brilha, a pureza da fruta, aquela limpidez que nos ofusca com uma revigorante frescura assente em travo mineral. Contudo nada disto se perde no Reserva, em que o estágio por madeira em nada vai alterar o que de muito bom a Alvarinho tem para dar, vai sim melhorar e refinar todo o conjunto... num resultado final que o coloca directamente no Top 3 dos melhores brancos made in Portugal.

Quinta de Soalheiro Alvarinho Reserva 2006
Nariz elegante de boa/média intensidade, mostra frescura, relva fresca, citrinos e fruta de caroço, untuosidade fina, mineral fundo com alguma tosta/fumo. Boca com mediana amplitude, ligeira untuosidade compensada pela acidez, fruta fresca com travo vegetal em fundo mineral. 17 - 92 pts

Quinta de Soalheiro Alvarinho Reserva 2007
Nariz a mostrar vivacidade num conjunto fresco de refinada complexidade e profundidade, limpo de aromas, frutado (citrinos, tropical e fruto de caroço), erva fresca com madeira muito bem integrada, tosta suave tal como sensação de untuosidade, mineralidade dominadora de segundo plano. Boca de boa amplitude, harmoniosa, belíssima acidez com tudo muito presente e em grande sintonia com a prova de nariz, num branco de classe pura. 18 - 95 pts

04 junho 2010

A insustentável leveza de o ser...

Desde o conceituado enólogo, passando pelo famoso chefe de cozinha ou pelos bloggers... todos eles enófilos puros e duros, verdadeiros homens da luta que se juntaram para mais uma memorável jornada, mais não fosse pelo convívio, que o vinho é quase sempre a melhor desculpa que se encontra para tal. Junte-se a tudo isto uma mesa farta de iguarias muito bem servidas pelo Salsa&Coentros ali perto dos Bombeiros de Alvalade, e quase duas mãos cheias de vinho.
O desafio tinha surgido a quando do lançamento do novo Esporão 1º Prémio Confraria dos Enófilos do Alentejo, com o objectivo de juntar numa prova os três vinhos do Esporão que até aos dias de hoje conseguiram ganhar o 1º Prémio. Se o novo 2007 é bem mais fácil de encontrar e comprar, a tarefa dos outros dois é quase Hercúlea, com o Esporão 1998 a conseguir passar despercebido para grande parte dos wine-freaks da nossa praça e arriscando a dizer que no caso do Esporão 2000 a tarefa fica quase uma missão impossível dado a raridade da peça. A estes vinhos ainda se juntaram os mais recentes lançamentos da Herdade do Esporão, na sua primeira aparição ao público, com um Espumante Rosé 2008, o novo Verdelho 2009, o novo Esporão Reserva branco 2009 e no final ainda deu para ver como vai de saúde o Esporão Private Selection 2001 e acabou tudo num bailinho da Madeira com um Cossart Gordon Verdelho Colheita 1995.
Em pequeno apontamento, a Confraria dos Enófilos do Alentejo nasce em 1991 e foi neste mesmo ano que se realizou o primeiro concurso dos Melhores do Alentejo, com atribuição dos respectivos prémios. Este aparte surge para colocar na mesa aquele que foi o primeiro branco a ganhar esse concurso, um vinho branco da Fundação Eugénio de Almeida e que carecendo de mais informação, poderá ter sido o primeiro Pera Manca branco.
Deixo uma breve nota sobre cada um dos vinhos, mais tarde falarei um pouco mais detalhadamente sobre alguns deles.

Espumante Esporão Rosé bruto 2008: Feito com Touriga Nacional e Syrah, servido com as entradas, mostrou-se polivalente, fruta madura vermelha e negra bem fresquinha com leve travo vegetal fresco em segundo plano. Boca com leve secura, complementa-se com a prova de nariz.

Esporão Verdelho 2009: Agora com novo rótulo, este V de Verdelho, perdeu em intensidade e tropicalidade e ganhou em finesse, frescura e limpidez, que sabem mostrar-se num belíssimo conjunto, talvez o que mais prazer me deu até hoje com esta casta. Não se perde na boca devido à acidez, e apenas temos de ter cuidado com a temperatura de serviço pois sempre são 14,5% Vol.

Esporão Reserva branco 2009: Rótulo do melhor que tenho visto, o vinho acompanha a qualidade do rótulo, na senda do anterior Reserva branco do Esporão. Boa acidez com fruta qb, numa madeira que está mas não está... apetecível do princípio ao fim, a refinar dentro dos próximos meses.

Fundação Eugénio de Almeida branco 1991 1º Prémio Confraria Enófilos Alentejo: A surpresa da noite foi este branco, deixou todos de queixo caído e a murmurar se teria mesmo 10 anos de vida, pela cor não mostrava sinais e pelo aroma muito menos... impactante, profundo, complexo, rico e ainda fresco, no final da noite o que sobrava era apreciado com deleite. Que grande branco.

Esporão 1998 1º Prémio Confraria Enófilos Alentejo: O mais cansado dos três, claramente com aromas mais "desgastados", o que menos frescura apresenta. Ainda assim a casta está presente e dá boas mostras de um conjunto de fina complexidade, delicadeza e o travo do Alentejo. À medida que ia melhorando no copo foi acabando...

Esporão 2000 1º Prémio Confraria Enófilos Alentejo: Não defraudou desde a última vez que foi provado, por mérito próprio foi novamente a meu ver o vinho que mais alto brilhou, com uma profundidade, frescura e complexidade de fazer inveja tendo em conta que são já 10 anos de vida.

Esporão 2007 1º Prémio Confraria Enófilos Alentejo: Este ainda anda de fraldas, tudo muito novo, falta-lhe tempo para aprender as coisas que os outros já dominam, embora mostre desde já grande apetência para a mesa. Madeira novamente em grande destaque pela positiva, louvável trabalho que não mascara a grande qualidade da fruta. Temos vinho para muitos anos e eu vou guardar as que tenho.

Esporão Private Selection 2001: Confirmação de que não é preciso ser o Melhor do Alentejo, para mesmo assim ter um lugar entre os ditos, acidez, taninos e corpo a fincar os pés de que tempo é coisa que gostam de passar todos juntos. Uma tertúlia de castas muito bem conseguida, animada e de grande qualidade, e não me parece que tenham pressa em ir embora. Pela finesse e complexidade, pela forma como se mostrou foi para mim o segundo vinho da noite, atrás do 2000 e à frente do 2007.

02 junho 2010

5 ANOS



No passado dia 20 de Maio o Copo de 3 fez 5 anos de vida online ... 5 anos sem interrupções ou intervalos. A maior prenda que podia ter foi entregue dia 19 pela 1:19 da matina no Hospital de Santa Maria.

29 maio 2010

A inocência própria da ignorância...

Texto retirado da net: "Desde que a China despertou para os prazeres do vinho, e que o seu consumo começou a ser fortemente incentivado pelo governo, o negócio das falsificações começou a encarar o vinho como um produto merecedor de investimento. Num ápice, o mercado chinês ficou inundado de imitações baratas e ingénuas, com rótulos caricatos pela inocência própria da ignorância. Infelizmente, a indústria da cópia aprende depressa, e em breve seremos inundados por rótulos mais cuidados e difíceis de detectar. Até lá, podemos ver pérolas como este Château Lafitte, escrito assim mesmo, com duplo “t”, ao contrário da grafia original que se escreve Château Lafite. Mas também são engraçadas as referências a Premiéres Côtes de Bordeaux, imagino que a appellation imaginária deste Lafitte chinês…" Por Rui Falcão in Mesa Marcada

Ora digo eu, que um jornalista profissional da área dos vinhos tem obrigação de se informar antes de escrever sobre qualquer assunto que desconhece. Pessoalmente não admito qualquer tipo de erro a um profissional e muito menos quando é especializado numa determinada área. Neste caso vamos mais além pois a notícia pode ser vista como uma colagem de uma outra que já tinha aparecido na net: http://www.grapewallofchina.com/2009/11 ... -in-china/ e onde podemos verificar que não se metem os pés pelas mãos.

É verdade que as falsificação de grandes nomes de vinho do mundo é uma realidade, e que na China essas mesmas falsificações têm aparecido. Só que apelidar determinado rótulo, com ar de troça como uma pérola de imitação barata e ingénua é assustador, tão assustador e grave quando o mesmo rótulo existe e não vem da China mas sim de Bordéus, http://www.chateaulafitte.fr/, o link até vem colocado no próprio rótulo mas deve ter passado desapercebido. Como nota adicional informo que existe também um tal Chateau Lafitte na AOC de Jurançon, com link http://www.chateau-lafitte.com/.
Mas não se fica por aqui, o autor ainda acha engraçada a referência de uma suposta appellation imaginária do tal Bordéus Chinês. O facto é que essa mesma appellation existe e até tem site na net, http://www.premierescotesdebordeaux.com/, querem ver que os Chineses também forjaram uma appellation inteira em Bordéus ?

Como nota final, não conheço qualquer dos vinhos mencionados acima, tudo isto foi feito a partir de uma breve pesquisa que fiz na internet, coisa que pelos vistos o jornalista profissional na área dos vinhos Rui Falcão não fez, pensando saber sobre algo que afinal não sabia.

PS: A não aceitação de vários comentários, incluindo o meu, a alertar para os erros feitos no dito local é de estranhar.

13 maio 2010

Altas Quintas branco 2008

Altas Quintas foi responsável pelo surgimento dos novos vinhos de qualidade na zona de Portalegre, uma qualidade que andava tímida e algo cabisbaixa, porém foi com o surgimento de um projecto sólido e ambicioso que Portalegre viu ressurgir a fama dos seus vinhos, principalmente os tintos. Neste caso não venho falar de um novo tinto Altas Quintas, venho sim falar na versão branco do vinho com o mesmo nome, o Altas Quintas branco. Construído sobre uma base nas castas Verdelho e Arinto, este vinho resultou de uma selecção das melhores uvas brancas de Altas Quintas. A fermentação decorreu em barricas novas de carvalho francês a uma temperatura de 14ºC e posteriormente o vinho foi deixado nas mesmas barricas em maturação durante mais seis meses. Ao longo deste período foi feita uma batonnage, progressivamente decrescente, para conferir ao vinho uma maior estrutura.

Altas Quintas branco 2008
Castas: Arinto e Verdelho - Estágio: 6 meses barricas carvalho francês - 13,5% Vol.


Tonalidade amarelo citrino com ligeiro reflexo dourado

Nariz a mostrar-se diferente logo na primeira abordagem, a tropicalidade da fruta surge embrulhada numa frescura que marca toda a prova, quer em nariz quer em boca. Madeira discreta (baunilha), sem mostrar grande presença num conjunto afinado, fresco e frutado, delicado mas com boa complexidade e alguma profundidade. Pelo meio ainda se encontram notas de citrinos e fruto de polpa branca, vegetal fresco, flores brancas e uma leve austeridade mineral, num vinho que nasceu a 600 metros de altitude.

Boca de entrada fresca, aqui novamente é a omnipresente acidez que toma conta do assunto, ponderada e correcta, com boa amplitude num todo onde se sente vegetal fresco com fruta citrina e alguma tropicalidade, sensação de arredondamento que vem da tal batonnage. Pelo meio e fim, temos a tal sensação mineral, aquele cascalho frio e húmido que ampara todo o conjunto, bastante curioso por sinal.

É no que toca a brancos o novo topo de gama deste produtor, que mostra seguir as pisadas dos tintos, sabendo aliar qualidade com uma boa dose de diferença. São por isso mesmo vinhos que nos dizem algo de novo, algo que foge daquela rotina de aromas e sabores que cada vez mais se vai instalando um pouco por todo o lado, primeiro porque vai buscar um improvável lote de Verdelho com Arinto onde o Verdelho está em maioria e o Arinto será o sal que ajuda a temperar o conjunto. Duas castas bem Portuguesas, onde o Antão Vaz não marca presença... a tal fuga para a frente e nunca para os lados que se procura. Gostei do vinho, gostei do impacto que causa aos menos atentos... alto lá o que é isto... e o preço não o impede que chega a um número alargado de mesas, penso que ronda os 14€. 16,5 - 91 pts
 
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