Copo de 3: Alvear Pedro Ximenez de Anada 2004

28 maio 2009

Alvear Pedro Ximenez de Anada 2004

É na província de Córdoba que se situa uma das primeiras áreas vinícolas da Andaluzia, remonta ao séc VIII A.C., a D.O. Montilla-Moriles, que foi criada em 1932.
Apesar de os seus vinhos se confundirem com os de Jerez, as diferenças entre ambos são bastante claras: enquanto o de Jerez é um vinho de aroma a lembrar azeitona, por vezes salino e seco, o de Montilla-Moriles desenvolve outros aromas como tomilho, rosmaninho... No paladar são vinhos que recordam a avelã, enquanto os de Jerez tem um gosto mais amendoado, com os finos de Montilla a apresentarem mais corpo e mais oleosidade, menos secos, com uma baixa acidez e um final típico amargo e algo rústico.

Os vinhos da D.O. Montilla-Moriles enquadram actualmente desde os estilos mais tradicionais aos mais modernos (caso do exemplar aqui em prova), produzindo 3 tipos de vinho: jóvenes afrutados, crianza (procedentes de uma combinação de lotes): secos, semi secos e doces , generosos (através do sistema de solera): frescos secos, finos, amontillados (inventado aqui no Séc. XVIII), palo-cortado e olorosos amontillados.
A estes 3 tipos, juntam-se os Pedro Ximénez, e também o Brandy de Montilla.
Em baixo coloco um vídeo que de certa forma ajudará a compreender um pouco melhor esta D.O. e os seus vinhos, está em Espanhol.



Um factor a ter em conta, pela importância que tem na base de um vinho, é e sempre será, o solo onde as vinhas estão colocadas, neste caso são as famosas Albarizas, solos ricos em carbonato de cálcio, pobres em matéria orgânica natural, pouco férteis, composição mineralógica simples (calcário e sílica) e com alta capacidade de reter a humidade (30%).
Durante a vindima realizada em finais de Agosto (uma das primeiras em Espanha e provavelmente de toda a Europa, por questões de clima), os cachos são estendidos num tapete onde as uvas passificam por acção do sol, adquirindo uma tonalidade cinza-pardo. Uma vez prensadas, obtém-se gota a gota um mosto denso, a superar largamente 250 gramas de açúcar por litro. Ora se por cada 17 gr de açúcar do mosto se transformarem num grau de álcool, consequentemente a percentagem média de etanol no vinho resultante da fermentação seria de 14,7%. É neste ponto que entram em funcionamento as leveduras próprias desta região, e graças a uma alta capacidade de transformação, obtêm de um mosto com 250gr um vinho com mais de 15% álcool. Desta maneira, o vinho passa sem mais adições, directamente para estágio em barrica.

Já passaram quase 3 séculos, desde que o primeiro Alvear, Juan, originário do município navarro de Nájera, fosse morar para a cidade de Córdoba para desempenhar funções a nível de economia local. Mas seria o seu filho, Diego de Alvear y Escalera que em 1729 se muda para Montilla onde nasce a sua paixão pela vinha e pelo vinho, onde iria fundar a Bodega Alvear (a mais antiga da Andaluzia).
Diego iria buscar à Argentina o seu capataz de confiança de nome Carlos Billanueva, que marcava com as suas iniciais (C.B.) os melhores vinhos provenientes da serra. Foi desta forma que se foi criando o "estilo" Alvear, pleno de moderação e homogeneidade nos seus traços, todavia presentes no Fino C.B. a marca centenária e mais conhecida deste prestigiado produtor.

A originalidade dos Alvear Pedro Ximénez de añada/ano de colheita, que é o referido no rótulo, é que se elaboram exclusivamente a partir de uvas Pedro Ximénez de uma só colheita, com um estágio estático (sem direito a Solera ou Criadera), com ou sem madeira a depender do tipo de vinho em questão.
Alvear Pedro Ximénez de Añada 2004
Castas: Pedro Ximénez (100%) - Estágio: 6 meses em madeira - 17% Vol.

Tonalidade ouro velho com toques de âmbar, apresentando uma elevada viscosidade.

Nariz de aroma potente e conquistador, é difícil não se ficar entretido com o refinado bouquet que este vinho emana no copo. Num todo harmonioso apesar da qualidade e complexidade de aromas que despoleta, variando desde fruta em passa (ameixa, figo), mel, tâmara, rosmaninho, laranja amarga e marmelada.
Ganha com algum tempo de copo, e mesmo com a subida de temperatura, a panóplia de aromas vai rodopiando, sem que em algum momento mostre sinais de quebra ou cansaço.

Boca doce é bom é bom é, lá dizia o anúncio do pudim. É assim que se apresenta este vinho, com uma enorme untuosidade que parece que o melaço, perdão... o vinho, se cola às paredes da boca, tecto incluído. É denso e coeso, mas ao mesmo tempo mostra-se harmonioso e cativante. A fruta está presente em modo de passa de ameixa e figo, alguma tâmara, avelã, licor de laranja e uma acidez bem integrada em todo o conjunto que lhe dá aquela frescura que não é derivada das horas que passou no congelador, terminando num longo e persistente final.

É um vinho arrebatador na boca, de impacto elevado para quem não está minimamente à espera... e não são poucos aqueles a quem já tive oportunidade de dar a provar e que ficaram rendidos aos encantos deste Pedro Ximénez.
Deve ser consumido a uma temperatura de 6º - 8ºC. , e como uma vez me disse um amigo, até se pode deixar esquecido no congelador. Acompanha muito bem variadas sobremesas, frutos secos e queijo azul, sendo que por cima de gelado de baunilha fará a delícia de muitos. O preço é qualquer coisa de espantoso, visto que se pode comprar na casa dos 6-7€.
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8 comentários:

Raul e Joel Carvalho disse...

Mas que belo vinho... Vinho que combina muito bem com sobremesas frias, aliando o frio e o doce na boca, tudo junto com grande complexidade e harmonia...

E pelo preço é um vinho para todas as bolsas e muito tentador...

Abraços dos manos Carvalho

Chapim disse...

Grande João, o que aconselhas para degustar com este vinho?
Um grande abraço
Chapim

João de Carvalho disse...

Rui, sem pensar muito e algo simples e bastante rápido, envolver uma bola de gelado de baunilha com um pouco deste vinho, acho que resulta muito bem.

Ou então tens a solução do queijo azul, nunca experimentei, que com um Stilton deve resultar em pleno.

PAULO SOUSA disse...

É um vinho para gulosos e para beber quase congelado.Também gostei muito.
Um abraço

Luis Prata disse...

Interessante. Onde o posso encontrar à venda a bom preço na zona de Lx?

João de Carvalho disse...

É tentar a sorte no Corte Ingles, na parte do Super ou na parte do Gourmet.

Eu costumo comprar no Corte Ingles de Badajoz, na parte do Supermercado.

Rui Pereira disse...

Não encontro isto em parte nenhuma. Estou farto de procurar e nada. Vê se trazes umas garrafas a mais de Badajoz para eu também provar.

João de Carvalho disse...

Tenho uma aqui em casa, que na próxima oportunidade/almoçarada abro para provares.

 
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