A história deste produtor começa com a chegada de John Blandy à Madeira, são dois séculos de uma dinastia de comerciantes cuja importante ligação ao mundo do Vinho da Madeira começa com o estabelecimento da firma em 1811 começando nesse ano como exportador de vinhos. Compra a propriedade onde hoje se encontra a Antiga Adega no Funchal – Blandy Wine Lodges. Após o declínio das exportações por causa das devastadoras pragas, primeiro o Oidium Tuckeri em 1851 e em segundo a Phylloxera em 1872, surge da união de várias empresas exportadoras a Madeira Wine Association em 1913 com objetivo de alivar os custos que envolviam todo o negócio. Foi nessa altura em que muitas dessas empresas não conseguiram resistir aos tempos menos favoráveis e acabaram por encerrar portas, vendendo os stocks à Blandy’s. Em 1925, a Blandy’s juntou-se à M.W.A. que sobreviveu até 1986, ano em que se torna a Madeira Wine Company SA.
Uma história notável de uma família que teve um papel muito importante no desenvolvimento do vinho Madeira, expandindo os seus negócios para a atividade bancária, seguros, reparação de navios… Duzentos anos depois a Blandy continua uma empresa familiar onde Michael e Chris são a 6ª e 7ª geração a trabalhar no negócio.Se noutro artigo tinha afirmado que os vinhos da Henriques & Henriques foram os primeiros grandes vinhos da Madeira que tive oportunidade de beber, os Blandy foram sem dúvida alguma aqueles que cimentaram o gosto e todo o meu entusiasmo pelo vinho Madeira ao longo dos anos enquanto enófilo. Foi um daqueles momentos muito especial o que envolveu a visita à Blandy no Funchal, realmente só o poder estar sentado naquela fantástica sala de provas vale uma ida à Madeira. A prova ficou a cargo daquele que é um dos grandes da enologia mundial, Francisco Albuquerque, e foi todo um privilégio poder ter ali uma grande lição sobre o vinho Madeira com prova incluída.
Não deixa de ser interessante que o vinho Madeira é um vinho que se alimenta de tempo, precisa de tempo para crescer, não de meses nem dias, mas de anos e quantos mais anos passarem mais complexidade ele ganha, mais mágico se torna. Os destaques como não podia deixar de ser, vão para alguns dos Vintage/Frasqueira provados:
Blandy’s Malmsey 1988Um dos grandes vinhos que tive oportunidade de provar foi o Malmsey 1988, passou em cascos cerca de 25 anos até serem lançadas em 2013 cerca de 1600 garrafas no mercado. Destaca-se pela frescura e finesse do conjunto, pelo incrível detalhe e precisão com que nos apresenta um conjunto de aromas muito bem definidos. Enorme na complexidade e equilíbrio, no imediato a laranja cristalizada a marcar pontos, figo, tâmaras, tabaco, muita especiaria, flores com fruto seco no fundo, o vinho desdobra-se em camadas. Conquista o palato com muita classe, toque de caril seguido de passas, novamente a passa de figo com nozes em destaque que quase se trinca, numa completa harmonia com o que encontramos no nariz, grande equilíbrio entre acidez/fruta/doçura.
Blandy’s Terrantez 1976E como já vem sendo hábito o que aqui se destaca novamente é a enorme elegância de todo o conjunto, este trabalho tão preciso de alta relojoaria é a marca da casa. Neste caso um Terrantez de 1976, que se mostrou bem mais elegante que o Terrantez 1977 colocado lado a lado na prova. A complexidade neste vinho é tremenda, tudo muito delicado mas profundo e muito complexo, com notas de caril em conjunto com chocolate e raspas de laranja, tâmaras, ligeiro balsâmico, caramelo torrado, nozes, tudo embrulhado numa grandiosa acidez que se junta ao aroma de móvel velho encerado. Na boca é um monstro muito bem-educado, entra ligeiramente doce para depois ser arrebatador pela frescura que invade todo o palato, renova as sensações do nariz, tem aquele toque agridoce que vai lavrando a língua até final em perfeita harmonia com a fruta e a acidez.
Blandy’s Verdelho 1973O exemplo perfeito de que o vinho da Madeira precisa e pede tempo é o do vinho que se segue, um Verdelho 1973 que apenas vai ser lançado agora no mercado. O vinho é mais um caso sério desta casa, contido de início mas muita complexidade, vem por finas camadas, charuto, maracujá, frescura e vivacidade dos aromas num conjunto com muita harmonia. A vivacidade dos aromas destaca-se, conjunto muito marcante no palato pela secura com um misto de untuosidade/doçura muito ligeira que lhe confere uma outra dimensão, colocando este Verdelho na galeria dos grandes desta casa.
Blandy’s Bual 1920É um vinho arrebatador a todos os níveis, complicado descrever tanta emoção enclausurada numa garrafa sempre que o tenho à minha frente, no copo ou na garrafa. Aqui o campeonato é o mais alto possível, este Bual 1920 tem a capacidade rara de nos conseguir calar. Podemos estar de conversa mas quando chega a vez deste 1920 as pessoas ficam caladas, olham, cheiram o copo… pausa, voltam a rodopiar cheiram novamente com um sorriso e depois começam a divagar. O bouquet é qualquer coisa de fantástico, concentrado, fresco, pecaminoso e novamente de enorme elegância, começa com toque de laca, abre e depois dá lugar à festa, toffee, nozes, caixa de charutos, aromas envoltos numa capa fresca e ligeiramente untuoso repleto de tâmaras, figos, fruta cristalizada. Tudo isto passa para o palato, entra cheio de vontade, untuoso, guloso para depois se mostrar com grande elegância, frescura e um final muito longo e persistente. Inesquecível.
Blandy’s Verdelho 1887Em 2011 foi identificado um Verdelho que estava colocado em demijohn de 50 litros, um Verdelho 1887 que acabaria por ser engarrafado em 2013. Destaca-se no imediato pela sua tonalidade, com aqueles lindos rebordos verde-esmeralda a indicarem uma idade de respeito. No aroma a festa é grande, começa por um toque de laca, depois serena e desperta para a sua plenitude, toque de madeira velha com fruta cristalizada, bolo inglês, figo e maçã em tarte, num sem fim de aromas que o envolvem num turbilhão de emoções. Boca arrebatadora, largo, profundo, denso e misterioso. Muito boa presença de fruta ao nível do nariz, ainda limpa e fresca, estamos a falar de um vinho de 1887, complementa-se com notas de caramelo, raspas de casca de laranja, grão de café verde num misto que combina o toque ligeiramente doce e frutado de início para terminar seco e untuoso no final.
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