Alguns graçolas gostam de dizer à boca cheia que eu sou uma pessoa que defende muito o vinho Espanhol... ora como se assumir o que se gosta fosse um enorme pecado ou mesmo um acto de infidelidade vínica para com o vinho feito em Portugal. Afinal de contas, Enófilo que se preze deve gostar de todos os bons vinhos independentemente da sua região, casta ou país, eu assim o continuarei a fazer, assumindo sempre os que mais gosto. Dito isto vou falar de um vinho feito do outro lado da fronteira, feito por um dos grandes senhores do vinho, não só de Espanha mas do Mundo, um nome que aprendi a respeitar desde muito cedo, os seus vinhos são exemplares e tudo respira qualidade. O nome das Bodegas Mauro, criadas por volta do ano de 1980, é sinal de prestígio e de Castilla y León (ficam à porta da D.O. Ribera del Duero), também sinal de modernidade e de vinhos feitos com mestria pelas mãos de Mariano Garcia. O vinho que comento é a entrada de gama deste produtor, um blend de Tempranillo com Syrah, vinificação das castas em separado e estágio entre 12 a 14 meses em barricas novas de carvalho francês (75%) e americano (25%).
Num aroma de mediana intensidade, em que primeiro mostra fruta vermelha e negra (morango, amora, framboesa) madura e de suave frescura com ligeira geleia das mesmas, tudo delicado e muito apetecível. Envolve-se com toques de regaliz, a madeira mostra-se muito afinada e refinada, em grande entrosamento com todo o conjunto e sempre de grande qualidade, apanágio desta casa, baunilha, charuto, café em grão e leve apimentado no fundo. Pelo meio parece saltitar um ligeiro apontamento de bálsamo vegetal que confere ao conjunto uma graça suplementar, mas tudo isto embrulhado com mestria embora sem uma complexidade que se destaque em demasia. Ficamos como que à espera de um pouco mais.
Boca com entrada frutada, melhor aqui que no nariz, passagem calma e harmoniosa com ligeira secura a meio palato, corpo médio com boa largueza de ombros, frutado e fresco com embate especiado e vegetal em fundo, acompanhado por toque de café torrado.
O resultado final não terá sido o mais esperado, pelo que conheci de outras colheitas esperava algo mais na forma como se mostrou, notei uma quebra no que a complexidade diz respeito, fiquei preso naquela falta de indefinição que o vinho mostrou pois quer ser e não mostra maneiras de o ser... até pelo preço que pedem por ele, nada barato são 23€ em garrafeira. Depois deste Mauro vem o VS que custa o dobro (45€), e no topo da casa espreita o Terreus cujo preço aponta para o dobro do preço do VS, (90€) portanto sempre em crescendo tanto em preço como em qualidade. Fiquemos contentes pois então, que pelos tais 23€ ou menos, há vinhos feitos em Portugal que dão muito mais prazer a beber. Este marchou em beleza com um assado de borrego, ninguém se queixou mas também não deslumbrou. 16,5 - 91 pts
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